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Dica literária - A História de O


O livro foi lançado em 1954 pela escritora, jornalista e ensaísta francesa Anne Desclos, sob o pseudônimo de Pauline Réage, 
A História de O narra a escravidão consentida de O, uma jovem fotografa francesa, que por amor ao seu amante se submeteu a torturas, humilhação, escravidão e à submissão absoluta ao se deixar internar por um período de tempo em um castelo nos arredores de Paris e ali ser seviciada e torturada.
Ao contrário do que o pensamento, O jamais se revoltou contra as chicotadas e humilhações que sofreu. Ela as aceitava como uma demonstração do amor de René, seu amante, e depois de Sir Stephen, o nobre inglês para quem seu amante a dá de presente. Mesmo após sair do castelo e retornar à vida livre e normal, O continua a aceitar a condição de escrava desses homens. Essa é a principal característica de O, a aceitação. A vontade de se submeter, e a forma quase ritualística com que ela é possuída por seus algozes, faz perceber que a jovem não apenas aceita aquela situação, mas também a deseja e concorda com ela. É o prazer na submissão.
Marco da literatura erótica e sado-masoquista, A história de O levanta a questão de como a personalidade de uma pessoa pode ser distorcida e mesmo deturpada, a ponto de ir contra o instinto básico da autopreservação, e aceitar passivamente a dor e o flagelo como formas de prazer.
O livro foi um estrondoso sucesso editorial, acima de tudo por expor de forma franca e direta, mas ao mesmo tempo sem ser em momento algum vulgar, a alma e a dor dessa jovem e, mais que tudo, por, pela primeira vez desde As memórias do Marquês de Sade, tratar o sado-masoquismo sem rodeios e, quase, sem julgamentos.
Ao acompanhar a sua descida ao fundo do poço, percebemos o quão vasta e cheia de meandros pode ser a mente humana, capaz de extrair prazer até mesmo de uma forma tão deturpada de amor. A História de O é mais que apenas um marco da literatura mundial. É também uma fonte de reflexão e, de certa forma, um alerta para que nunca deixemos a nossa auto-estima ser solapada pela vontade deturpada de outros. Mesmo daqueles que dizem nos ama.

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